domingo, 28 de fevereiro de 2010

Escritos

Faz um tempão que não posto escritos de ninguém aqui. Nem meus.
Hoje conversando, veio à lembrança o Eduardo Galeano e seus maravilhosos textos.
Então, pra celebrar a volta da beleza das palavras ao LimaBoa, aí vai um lindo Galeano.

O Amor

      Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era
estranho o que tinham ente as pernas.
-Te cortaram?-perguntou o homem.
-Não-disse ela.-Sempre fui assim.
      Ele examinou-a de perto.Coçou a cabeça. Ali havia uma chaga aberta.
  Disse:
 -Não comas mandioca, nem bananas, e nenhuma fruta que se abra ao amadurecer. Eu te curarei. Deita na  rede, e descansa.
     Ela obedeceu. Com paciência bebeu os mingaus de ervas e se deixou aplicar as pomadas e os unguentos.
Tinha de apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
-Não te preocupes.
      Ela gostava de brincadeira, embora começasse a se cansar de viver em jejum, estendida em uma rede. A memória das frutas enchia sua boca de água.
      Uma tarde, o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
-Encontrei! Encontrei!
      Acabava de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
-É assim- disse o homem, aproximando-se da mulher.
     Quando acabou o longo abraço, um aroma espesso, de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, que jaziam juntos, se desprendiam vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta formosura que os sóis e os deuses morriam de vergonha.
 
Obs.: Esse lindo texto encontra-se no livro Mulheres de Eduardo Galeano.

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