sábado, 11 de junho de 2011

Pensamentos recorrentes....e fugidios..

Estava eu um dia assistindo a um documentário na TV à cabo (não me lembro em que canal), acerca de presas americanas que estavam condenadas à pena perpétua.

Fiquei muito impactada por uma mocinha (vinte e poucos anos) negra , com condenação que inciava o cumprimento de sua pena. Outra presa mais velha, também com a mesma condenação, igualmente negra (que coincidência!!!) tinha sido incumbida de recepcioná-la e ser-lhe uma espécie de tutora.

Lembro dessa presa mais velha dizer:"- ainda não caiu a ficha dela. Ela não se deu conta de que ficará aqui para sempre.E quando a ficha cair ela precisará de alguém como eu ao seu lado., para ajudá-la a aceitar. Pois o desespero vem .É assim com todas."

Fiquei tão chocada com essa condenação. Nem me lembro se já estudava Direito... Mas me lembro de ter pensado assistindo aquele programa, da violência daquela decisão  em especial para alguém tão jovem.

Pensei na liberdade como um bem tão precioso, e mais, pensei que outras pessoas iguaizinhas àquela moça tinham o poder de decidir trancafiá-la para sempre. Mas afinal, quem tinha dado esse poder a elas?

Não tinha conhecimento ainda da Criminologia, do que significava um Estado de Direito, o que era Direito Penal...
Também não tinha tido contado com a obra de Foucault, nunca tinha ouvido falar em garantismo ou Abolicionismo Penal.

Mas uma coisa que Cristo conseguiu implantar no meu resistente coração, talvez o que seja um rudimento das vigas do que virá a ser o Seu reino em mim , foi essa noção de como diria Darcy Ribeiro , da nossa niguendade e da totalidade de Deus.

Para erguer esses fundamentos, que estão aqui, dentro de mim aguardando silenciosos o resto da edificação, Cristo teve que destruir meu  cruento tribunal particular.

E é por isso que as penas privativas de liberdade ( sobretudo elas) me chocam.

Ocorreu-me então a passagem da mulher adúltera:

"Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério, fazendo-a ficar de pé no meio de todos e disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Mas Jesus, inclinando-se escrevia na terra com o dedo. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até os últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: mulher, onde estão teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela, ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus, nem Eu tampouco te condeno; vá e não peques mais".

(João - 8: 3 - 11).

Então hoje, tive contato com o pensamento de Zaffaroni e seu entendimento de que toda a pena é política. Concordo.
Muito me falta amadurecer meus estudos: sobre abolicionismo;garantismo;o funcionalismo redutor do próprio Zaffaroni....

Mas não pude deixar de pensar se Jesus não era intrínsicamente abolicionista. Isso me emociona. Sua própria vinda, para nos livrar de pena, o episódio aí de cima, seu caráter libertador.Creio sinceramente, que ainda estamos muito , mas muito longe mesmo de entendermos o caráter de Jesus e a Sua grandeza.

Minha mente viaja... e vai parar na poesia de Abel Silva, já postada aqui. O amor minha gente. É outra liberdade.

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